Padre João Duarte considerado principal interveniente no programa artístico
“… O principal responsável pelo essencial do novo e requintado programa artístico foi um arquitecto até agora praticamente desconhecido da História da Arte portuguesa, o Padre João Duarte.
Este director de programas artísticos foi um dos activos membros da Academia dos Singulares, «verdadeira recriação do Parnaso, tal como a época o concebia», reunindo funcionários da corte, músicos, poetas, escritores, teólogos, eclesiásticos da Capela Real, juristas e pintores, muitos deles inscritos na Irmandade de São Lucas. Fundada em 1663 (ou melhor, refundada, pois tivera precoce actividade desde 1647), a Academia dos Singulares reunia-se em casa de António Alvares da Cunha, trinchante-mor de D. João IV, na primeira fase e, de seguida a 1663, na casa de Pedro Duarte Ferrão, poeta e inquiridor das Causas da Coroa, morador no Largo da Rua dos Escudeiros. O P. João Duarte, enquanto membro dos Singulares, chegou a ser seu presidente, e aí expressou os seus dotes de erudição nas ciências de Geometria, Óptica e Matemática, tendo no seu seio ensinado inclusivamente o tratado da Esfera Terrestre, quer na Oração Que Recitou a 20 de Janeiro de 1664, quer na Oração Recitada a 22 de Janeiro de 1665, esta ultima em tempo da presidência da academia pelo P. António Lopes Cabral, cantor e capelão da Capela Real. Esta relação com Lopes Cabral é deveras interessante, pois (conforme veremos depois) o P. João Duarte associou-se aos artistas por si escolhidos para intervirem nas obras de S. Cristóvão, no vasto programa decorativo da Capela Real do Paço da Ribeira, malogradamente desaparecido no incêndio que se seguiu ao terramoto de 1755.
O padre Duarte, um muito esquecido artista da geração protobarroca, surge-nos considerado, ao tempo, como “perito em traças de arquitectura e presbítero mui erudito assim em as noticias históricas, como em as disciplinas mathematicas”, e será nessa condição um dos artistas (ou “curiosos de arquitectura”,como se designavam na gíria da época) chamados a opinar, na “vesturia dos architectos” de 16 de Fevereiro de 1681, sobre o projecto da nova Igreja de Santa Engrácia, depois da célebre derrocada…”
VÍTOR SERRÃO, Programa Artístico da Igreja de São Cristóvão de Lisboa. O retábulo quinhentista e a campanha de obras protobarrocas (1666-1685) (separata do Boletim Cultural da Junta Distrital de Lisboa, série IV, n.º 92), 1998, pp. 56-57
Este director de programas artísticos foi um dos activos membros da Academia dos Singulares, «verdadeira recriação do Parnaso, tal como a época o concebia», reunindo funcionários da corte, músicos, poetas, escritores, teólogos, eclesiásticos da Capela Real, juristas e pintores, muitos deles inscritos na Irmandade de São Lucas. Fundada em 1663 (ou melhor, refundada, pois tivera precoce actividade desde 1647), a Academia dos Singulares reunia-se em casa de António Alvares da Cunha, trinchante-mor de D. João IV, na primeira fase e, de seguida a 1663, na casa de Pedro Duarte Ferrão, poeta e inquiridor das Causas da Coroa, morador no Largo da Rua dos Escudeiros. O P. João Duarte, enquanto membro dos Singulares, chegou a ser seu presidente, e aí expressou os seus dotes de erudição nas ciências de Geometria, Óptica e Matemática, tendo no seu seio ensinado inclusivamente o tratado da Esfera Terrestre, quer na Oração Que Recitou a 20 de Janeiro de 1664, quer na Oração Recitada a 22 de Janeiro de 1665, esta ultima em tempo da presidência da academia pelo P. António Lopes Cabral, cantor e capelão da Capela Real. Esta relação com Lopes Cabral é deveras interessante, pois (conforme veremos depois) o P. João Duarte associou-se aos artistas por si escolhidos para intervirem nas obras de S. Cristóvão, no vasto programa decorativo da Capela Real do Paço da Ribeira, malogradamente desaparecido no incêndio que se seguiu ao terramoto de 1755.
O padre Duarte, um muito esquecido artista da geração protobarroca, surge-nos considerado, ao tempo, como “perito em traças de arquitectura e presbítero mui erudito assim em as noticias históricas, como em as disciplinas mathematicas”, e será nessa condição um dos artistas (ou “curiosos de arquitectura”,como se designavam na gíria da época) chamados a opinar, na “vesturia dos architectos” de 16 de Fevereiro de 1681, sobre o projecto da nova Igreja de Santa Engrácia, depois da célebre derrocada…”
VÍTOR SERRÃO, Programa Artístico da Igreja de São Cristóvão de Lisboa. O retábulo quinhentista e a campanha de obras protobarrocas (1666-1685) (separata do Boletim Cultural da Junta Distrital de Lisboa, série IV, n.º 92), 1998, pp. 56-57